Além do Bem-estar: O Caminho Para Alta Performance
A corrida corporativa por suprir as necessidades de bem-estar dos colaboradores não terminará. Isso por conta do fenômeno da adaptação hedônica, uma característica do ser humano que faz com que as pessoas naturalmente se acostumem com benefícios e melhorias em suas vidas, retornando ao seu nível base de satisfação.
Estudos mostram que depois de um ano, pessoas que ganharam na loteria retomam seu nível original de felicidade. O mesmo acontece com quem sofre acidentes graves e perde o uso das pernas. Depois de um tempo, nos adaptamos à nova situação e o acontecimento não nos faz mais ou menos felizes que antes.
Assim, no ambiente empresarial benefícios como um ambiente descolado, comida à vontade, mesa de pingue pongue, academias e quadras esportivas entre outros, logo podem ser encarados como básicos criando um ciclo de expectativas sempre crescentes.
Em oposição à forma hedônica de encarar a vida, está a filosofia Eudaimônica, que propõe que a verdadeira felicidade e satisfação vêm do desenvolvimento pessoal, da busca por propósito e da realização do próprio potencial, aspectos que, diferentemente dos prazeres momentâneos, geram um bem-estar mais profundo e duradouro.
O que para os funcionários pode ser uma busca pessoal por um tipo de realização ou de outra (momentânea e superficial versus duradoura e profunda) para a organização é a chave para uma nova forma de encarar o desempenho
Ainda que o colaborador tenha passado a enxergar a importância de preencher outras áreas da vida e se ver satisfeito com elas, as empresas não conseguiram ir além de provedoras de benefícios superficiais, perdendo a oportunidade de se tornarem verdadeiras catalisadoras do desenvolvimento humano.
Por exemplo, o mero acesso a uma rede de academias não torna automaticamente o colaborador mais saudável. É necessário desenvolver hábitos de saúde e atividade física. Essa evolução passa por ganho de consciência da importância e necessidade de desenvolvimento do pilar de saúde física até o uso de ciência comportamental para habilitar a rotina de exercícios e de cuidados com o corpo. Em especial para quem tem mais dificuldade de desenvolver essa auto-disciplina, a motivação extrínseca é essencial.
O ambiente corporativo evoluiu a partir de décadas de dominância de culturas de trabalho tóxicas e exploratórias, para um entendimento da necessidade de equilibrar outros pilares da vida para o desempenho pleno. Mas ao deixar de lado o chicote corporativo, muitas lideranças se vêem perdidas sem conhecer outra forma de extrair performance do time.
Em uma palestra para estudantes de Stanford em 2024, o Ex-CEO do Google, Eric Schmidt afirmou: “O Google decidiu que equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, trabalhar de casa e sair cedo do trabalho era mais importante do que vencer". Essa frase ao mesmo tempo apresenta o abandono de uma fórmula que funcionava para entregar resultados em outros tempos e o vácuo que tomou conta no lugar, deixando a entender que não existe um lugar que concilie desempenho no trabalho com os outros pilares da vida.
É esse vácuo que a filosofia eudaimônica deve ocupar. O trabalho não precisa ir de um extremo de burn out e doenças mentais para outro entediante e não desafiador. Para os gregos antigos, a realização no seu ofício estava em atingir grandes feitos. Essa é uma realização que não se atinge sem uma busca por alto desempenho.
Na saúde física, não há evolução sem empurrar limites. Só se ganha massa muscular machucando os músculos além do que eles estão acostumados no dia-a-dia. Saúde mental não é apenas a ausência de doença mental. Relacionamentos saudáveis e duradouros não se constróem sem conversas difíceis.
Todos esses pilares são importantes para a evolução do potencial humano. E o mindset de evolução em cada um deles é o novo caminho para o desenvolvimento e a performance no trabalho. O colaborador que desafia a evoluir na saúde física e mental, em seus relacionamentos e espiritualidade, fatalmente entregará mais resultados do que o que não se desafia.
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